100 ANOS DO TEXTO “ALÉM DO PRINCÍPIO DE PRAZER”
Aqui, neste meio do caminho, Freud introduz uma nova dualidade que rege nosso mundo interno: “pulsão de vida – pulsão de morte”. O que isso quer dizer? De maneira simplificada, significa que há dentro de cada um de nós uma força que direciona ao desprazer. A compulsão à repetição, o masoquismo e a vivacidade de experiências traumáticas passadas são exemplos de manifestações dessa força que não poderiam ser explicadas unicamente pelo princípio de prazer. Isso anula, então, a força reguladora desse princípio? Pelo contrário, ela comprova a existência da nova pulsão de morte, que, apesar de direcionar o indivíduo numa tendência ao inorgânico, serve de motor propulsor quando ligada à pulsão de vida. Enquanto a pulsão de vida dá contorno e liga essa energia bruta, a pulsão de morte movimenta e rompe. A mãe que investe em seu bebê dá vida e significado ao primitivo que pulsa, e é também por amor que ela irá gradualmente romper com essa fantasiosa e plena posição que seu filho ocupa de pura satisfação na relação entre eles. Além de essencial e constituinte, essa dualidade pulsional é a prova de que há prazeres que operam e demandam sem descanso dentro de nós, e, apesar da força da palavra “morte”, é devido a essa pulsão que podemos nos direcionar à vida.
Assim como não existe morte sem a vida, nem vida sem a morte, a dualidade pulsional proposta por Freud em Além do Princípio de Prazer nos apresenta aquilo que tem de mais profundo no ser humano: o desejo de viver pautado por um caminho que nos leva ao fim de todas as coisas, que paradoxalmente pode ser o início de tantas outras. Este trabalho de Freud é relevante não apenas teoricamente, mas também pelo olhar filosófico sobre a vida sempre articulada com algo obscuro e desconhecido em cada um de nós.Autoras: Karen Dischinger e Luana Francisco, membros associados do ESIPP.